Reconhecimento de paternidade: um guia para mães solo

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Reconhecimento de paternidade: Entenda os passos legais para garantir o nome do pai no registro, pensão, herança e vínculo afetivo.

Reconhecimento de paternidade: Entenda os passos legais para garantir o nome do pai no registro, pensão, herança e vínculo afetivo.
Reconhecimento da paternidade. (Foto: Freepik)

Introdução: a realidade invisível de muitas mães solo

Criar um filho sozinha é um desafio imenso e, infelizmente, uma realidade para muitas mulheres no Brasil. De acordo com uma pesquisa de 2022 da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 11 milhões de mulheres criam sozinhas os filhos.

São mães que, além de lidar com as demandas emocionais, financeiras e sociais da maternidade, ainda precisam enfrentar a ausência do nome do pai no registro de nascimento da criança. 

Essa omissão gera dúvidas, insegurança e, muitas vezes, uma sensação de desamparo diante da lei.

Mas é importante saber:

Mesmo sem o pai oficialmente reconhecido no papel, a criança tem direitos garantidos por lei, e a mãe também consegue buscar respaldo jurídico para assegurar proteção e dignidade para ambos.

Se você é mãe solo ou conhece alguém nessa situação, siga com a leitura. 

Explicamos aqui, o que significa ter um registro sem o nome do pai, quais são os direitos envolvidos como pensão alimentícia, herança, benefícios sociais e reconhecimento de paternidade

Além disso, falamos também quais caminhos legais estão disponíveis para as mães solo que vivem essa realidade.

Quando o nome do pai não está no registro: o que isso representa na vida da mãe e da criança

Ter apenas o nome da mãe no registro de nascimento não é apenas uma questão burocrática, é um retrato de uma responsabilidade assumida sozinha. 

Para muitas mulheres, isso significa criar os filhos com amor, coragem e muito esforço, mas também com dúvidas e inseguranças sobre os direitos da criança e os próprios limites legais.

Do ponto de vista emocional, essa ausência muitas vezes gera sentimentos de abandono, solidão e injustiça. 

Já na prática, a ausência do pai no registro impacta diretamente no acesso a direitos fundamentais, como:

  • Pensão alimentícia.
  • Inclusão em benefícios sociais.
  • Herança em caso de falecimento do pai.
  • Direito de convivência com a família paterna.
  • Registro de dupla filiação em documentos oficiais.

Mãe pode buscar o reconhecimento da paternidade

Apesar disso, é importante saber: a mãe tem a possibilidade de tomar a iniciativa de buscar o reconhecimento da paternidade. E esse é um passo muito importante não só para garantir os direitos da criança, mas também para promover justiça e reconhecimento.

Ainda que pareça um caminho difícil, existem caminhos jurídicos disponíveis, inclusive por meio da Defensoria Pública, quando a mãe não tem condições de arcar com um advogado particular. 

Você não está sozinha e a lei está do seu lado.

A criança tem direito à pensão mesmo sem o pai no registro?

Essa é uma das dúvidas mais comuns e totalmente compreensíveis. Afinal, se o nome do pai nem consta na certidão de nascimento, será que a criança ainda tem direito à pensão

A resposta é: sim, tem. Mas antes, é preciso dar um passo importante.

O primeiro passo: reconhecimento da paternidade

Para garantir o direito à pensão alimentícia, é necessário primeiro o reconhecimento legal da paternidade. Isso porque o pai tem o dever de pagar a pensão, mas a lei só o responsabiliza quando ele está identificado como tal.

Se o pai se recusar a reconhecer a criança de forma espontânea, a mãe consegue entrar com uma ação de investigação de paternidade na Justiça. 

Esse processo geralmente inclui exame de DNA, testemunhas e outros documentos que ajudem a comprovar o vínculo. Uma vez confirmada a paternidade, o juiz determina o pagamento da pensão.

É importante lembrar:

Se a mãe não tiver condições financeiras, a Defensoria Pública conduz o processo.

A pensão alimentícia não cobre apenas alimentação, ela também abrange moradia, saúde, educação, lazer e vestuário.

Portanto, mesmo que o pai esteja ausente no papel e na vida, a criança não deve ser privada dos seus direitos. 

Leia também:

Paternidade Biológica e Socioafetiva: direitos e deveres

Como incluir o nome do pai depois do registro

Essa é uma dúvida muito comum entre mães solo. Quando o nome do pai não consta na certidão de nascimento, é natural surgir a insegurança: será que ainda dá tempo de corrigir isso? 

Sim, é possível incluir o nome do pai mesmo depois do registro feito apenas pela mãe. E esse passo certamente abre caminhos importantes para garantir os direitos da criança, como pensão alimentícia, herança e até benefícios do INSS.

Mas como isso funciona na prática? A resposta vai depender de dois cenários principais: quando o pai reconhece a paternidade espontaneamente e quando ele se recusa ou está ausente.

Quando o pai reconhece espontaneamente

Se o pai decide assumir a paternidade por vontade própria, o processo é mais simples e rápido. Ele consegue ir ao cartório junto com a mãe para fazer a inclusão do nome na certidão de nascimento da criança. 

Em alguns casos, o reconhecimento também pode ser feito diretamente na Justiça. A partir daí, a criança passa a ter todos os direitos legais que envolvem a filiação.

Quando o pai não reconhece

Por outro lado, se o pai não quer reconhecer o filho ou está desaparecido, a mãe tem a opção de entrar com uma ação de investigação de paternidade. 

É possível iniciar esse processo mesmo sem o nome do pai no registro. O juiz solicita então exame de DNA ou analisa outras provas para confirmar o vínculo biológico. 

Se for comprovado, a Justiça determina a inclusão do nome do pai na certidão de nascimento. 

Essa etapa parece difícil, mas é um direito previsto por lei e uma forma de buscar justiça para a criança e para a mãe.

A mãe consegue pedir pensão mesmo sem advogado?

Sim, consegue! 

E essa é uma informação que muitas mulheres desconhecem. 

Se o pai não ajuda financeiramente com a criação do filho, a mãe tem o direito de entrar com um pedido de pensão alimentícia e não precisa, obrigatoriamente, contratar um advogado para isso.

Você pode procurar diretamente a Defensoria Pública da sua cidade, especialmente se não tiver condições de pagar por um advogado particular.

Desta forma, a Defensoria oferece atendimento gratuito, ajuda a reunir os documentos necessários e encaminhar o pedido de pensão à Justiça.

Além disso, alguns tribunais de justiça disponibilizam serviços online nos quais é possível fazer o pedido inicial de pensão pela internet. 

Esse tipo de acesso tem facilitado a vida de muitas mães, que antes precisavam enfrentar longas filas ou viagens até o fórum.

Mesmo sem advogado, é possível conseguir:

  • Audiência de conciliação com o pai da criança.
  • Definição de um valor justo baseado nas necessidades do filho e na renda do pai.
  • Determinação judicial com valor fixado (que passa a ter força de lei).

Mas atenção: se o processo se tornar mais complexo, como em casos de atraso de pensão, revisão de valores ou se o pai se recusar a comparecer, é muito importante contar com a ajuda de um profissional especializado.

O importante é saber que não é preciso esperar ou ter medo de procurar seus direitos. A Justiça existe para proteger você e seu filho.

Fale com o nosso Núcleo de Direito de Família

Mesmo sem renda fixa, o pai deve pagar pensão

A legislação brasileira estabelece claramente que o dever de pagar pensão alimentícia é independente de o pai ter ou não renda fixa. O Código Civil Brasileiro, em seu artigo 1.695, determina que:

“São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.”

Isso significa que, mesmo que o pai não tenha um emprego formal ou uma fonte de renda fixa, ele ainda é responsável pelo sustento do filho, desde que tenha condições de contribuir, mesmo que de forma reduzida. 

A obrigação é recíproca e se baseia na necessidade do alimentando e na possibilidade do alimentante, conforme o artigo 1.696 do Código Civil.

“O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.”

Portanto, a falta de emprego formal não exime o pai de sua responsabilidade alimentar. 

Se o pai for desempregado? 

Em casos de desemprego, a Justiça consegue ajustar o valor da pensão, mas não isenta o pai de contribuir para o sustento do filho. 

Se o pai não cumprir com a obrigação, medidas como penhora de bens ou até prisão civil podem ser aplicadas, conforme o artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição Federal.

Em resumo, a lei brasileira assegura que o direito à pensão alimentícia é garantido, independentemente da situação de emprego do pai, visando sempre o melhor interesse da criança.

Quem nunca pediu pensão antes consegue pedir agora?

Muitas mães se perguntam se ainda é possível solicitar pensão alimentícia mesmo que nunca tenham feito esse pedido anteriormente. 

A resposta é simples: sim, sempre é possível buscar esse direito para garantir o sustento do seu filho.

Sobretudo, não importa se a criança já tem alguns anos de idade ou se você está passando por essa situação pela primeira vez agora. 

O direito à pensão alimentícia é contínuo e pode ser solicitado a qualquer momento enquanto houver necessidade do filho e possibilidade do pai contribuir.

Quem consegue fazer o pedido de pensão 

Vale lembrar que o pedido pode ser feito pela mãe, pelo próprio filho (quando maior de idade), pelo representante legal ou pelo Ministério Público, dependendo da situação.

Além disso, caso o pai nunca tenha contribuído, é possível solicitar pensão retroativa, que cobre o período em que o valor não foi pago, protegendo os direitos financeiros da criança.

Portanto, não deixe de buscar essa garantia, pois o tempo não impede que o direito à pensão seja assegurado pela Justiça.

Ação para reconhecimento de paternidade

Se o nome do pai não está no registro de nascimento da criança, a mãe tem a opção de tomar a iniciativa de acionar a Justiça para buscar o reconhecimento da paternidade.

Esse processo geralmente é feito mesmo sem o consentimento do suposto pai. Basta a mãe procurar a Defensoria Pública ou um advogado particular e entrar com a ação de investigação de paternidade. 

Durante o processo, na maioria das vezes, o juiz determina um teste de DNA que, se confirmado, garante o registro do nome do pai na certidão de nascimento e abre caminho para outros direitos, como pensão alimentícia e herança.

É importante saber que esse direito é da criança, não da mãe. Por isso, o tempo não anula a possibilidade de reconhecer a paternidade. Mesmo adolescentes ou adultos conseguem solicitar esse reconhecimento.

O que muda após o reconhecimento legal do pai?

Quando a Justiça reconhece oficialmente a paternidade, uma série de mudanças importantes acontecem na vida da criança e da mãe. 

Esse reconhecimento vai muito além de um nome no documento ele traz garantias legais, emocionais e financeiras.

Alteração do registro de nascimento

A certidão de nascimento da criança passa a incluir o nome do pai, além dos avós paternos, como prevê a legislação. Esse é um marco importante, pois garante a identificação completa da origem familiar.

Direito à pensão alimentícia

Com o reconhecimento legal, o pai tem a obrigação de contribuir com os custos de criação e sustento do filho. A pensão é calculada com base na renda do genitor e nas necessidades da criança, sempre com foco no bem-estar dela.

Direito à herança e sucessão

A criança reconhecida passa a ter os mesmos direitos hereditários que qualquer outro filho. Isso significa acesso à herança em caso de falecimento do pai, além de outros benefícios legais que possam surgir ao longo da vida.

Possibilidade de convivência e fortalecimento do vínculo afetivo

Com a paternidade reconhecida, é possível iniciar (ou regularizar) um regime de convivência. Isso torna-se positivo para a formação emocional da criança, desde que seja algo saudável e respeitoso.

Em resumo, o reconhecimento da paternidade dá à criança o que é dela por direito: nome, sustento, proteção e pertencimento.

Informação é poder: conheça seus direitos e busque apoio

Encerrando, fica um recado direto do coração: você não está sozinha.

Muitas mães enfrentam o desafio de criar um filho sem o apoio do pai. Mas saber que existem caminhos legais para buscar os direitos da criança e a sua dignidade como mãe solo já é um grande passo.

A informação muda tudo.

Por isso, procure orientação com um advogado ou pela Defensoria Pública da sua cidade. Entender seus direitos é o primeiro passo para proteger quem mais importa: seu filho.

🔹 Precisa de ajuda para iniciar o processo de reconhecimento de paternidade ou garantir os direitos do seu filho?

Fale com o nosso Núcleo de Direito de Família. A equipe do Dal Piaz está pronta para orientar você com acolhimento, empatia e responsabilidade.

Fonte: 

Agência do Brasil

Código Civil Brasileiro 

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