Crise de saúde mental: afastamentos por ansiedade e depressão batem recorde no Brasil. Veja os dados, principais causas e os riscos para as empresas.
Introdução
Atualmente, o Brasil enfrenta uma verdadeira crise de saúde mental, que reflete diretamente na vida dos trabalhadores e nas empresas.
Dados recentes divulgados pela Previdência Social mostram que em 2024, o país registrou um recorde histórico de afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão.
Ao todo, foram mais de 472 mil licenças concedidas pelo INSS devido aos transtornos mentais, o maior número dos últimos 10 anos. Além disso, o crescimento foi expressivo: houve um aumento de 68% em relação ao ano anterior.
Como resposta a essa crise, o governo federal anunciou a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que amplia a fiscalização sobre os riscos psicossociais nas empresas. Com isso, empregadores podem ser multados caso negligenciem a saúde mental dos colaboradores.
Neste artigo, você vai entender em detalhes o que motivou esse crescimento alarmante, quais os principais transtornos que afastaram trabalhadores, o impacto financeiro para o INSS e as empresas e, principalmente, o que muda com as novas exigências sobre saúde mental no trabalho.
Dados revelam um cenário alarmante na saúde mental
Os números de 2024 expõem uma realidade preocupante sobre a saúde mental dos trabalhadores brasileiros.
Segundo dados oficiais do Ministério da Previdência Social, o país registrou em 2024, 472 mil afastamentos concedidos pelo INSS devido a transtornos mentais. Esse é o maior número da série histórica dos últimos 10 anos.
Em comparação com 2023, o crescimento foi expressivo: houve um aumento de 68% nas concessões de licenças médicas relacionadas aos problemas psicológicos e emocionais.
Sobretudo, esse salto chama a atenção de especialistas e autoridades, já que evidencia o avanço da crise de saúde mental nas relações de trabalho.
Entre os transtornos mais comuns que motivaram os afastamentos estão a ansiedade e a depressão, doenças que afetam diretamente a capacidade produtiva e o bem-estar do trabalhador.
Além disso, o burnout, síndrome causada pelo esgotamento extremo devido ao trabalho, também aparece como fator de afastamento, embora ainda exista subnotificação por dificuldades no diagnóstico.
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Ansiedade, depressão e síndrome de burnout lideram os afastamentos
Segundo o estudo, boa parte dos afastamentos em 2024 foi em razão de transtornos de ansiedade (141.414), seguidos por episódios depressivos (113.604) e por transtorno depressivo recorrente (52.627).
Para se ter uma ideia, apenas em Santa Catarina, foram registrados 33.461 afastamentos por ansiedade e 8.541 por depressão.
Esses números refletem o peso que essas condições vêm ganhando na rotina dos trabalhadores — muitas vezes sobrecarregados por metas abusivas, jornadas extensas e falta de suporte emocional dentro das empresas.
Além disso, a síndrome de burnout — caracterizada pelo esgotamento físico e mental causado pelo excesso de trabalho —, também aparece entre os motivos de afastamento.
Em 2024, o burnout gerou 4 mil licenças médicas. Apesar de parecer um número menor, especialistas alertam que o dado pode ser ainda mais grave, já que muitos casos não são diagnosticados corretamente, e desta forma, dificultam o reconhecimento oficial da doença.
Impacto regional revela desigualdade
Ao analisar os dados por estado, observa-se que as regiões mais populosas, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, registraram o maior volume absoluto de afastamentos.
No entanto, quando considerada a proporção em relação à população, os estados com os maiores índices foram o Distrito Federal, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.
Esse recorte regional revela que a crise de saúde mental atinge o país de forma desigual.
No caso do Rio Grande do Sul, por exemplo, especialistas associam o alto índice à tragédia das enchentes que devastaram o estado, causando perdas irreparáveis e impactos severos na saúde emocional da população.
Principais perfis das pessoas com afastamento por saúde mental
À medida que a crise de saúde mental se agrava, o perfil das pessoas afetadas começa a se destacar nos dados oficiais. Embora os transtornos mentais possam atingir qualquer trabalhador, alguns grupos estão mais vulneráveis devido às características do trabalho e às pressões diárias.
Mulheres e jovens entre os mais impactados
Em primeiro lugar, as mulheres aparecem entre as mais afetadas pelos afastamentos relacionados à saúde mental.
Além das demandas profissionais, muitas também acumulam responsabilidades familiares, o que aumenta a sobrecarga emocional e o risco de adoecimento.
Em seguida aparecem os jovens trabalhadores que também enfrentam um cenário preocupante.
Com frequência, eles são expostos a ambientes altamente competitivos, metas abusivas e insegurança profissional — fatores que contribuem diretamente para o aumento de casos de ansiedade e depressão.
Trabalhadores de áreas mais expostas ao estresse
Outro dado relevante é que profissionais de áreas como saúde, educação, atendimento ao público e tecnologia também lideram as estatísticas de afastamentos.
Isso porque esses setores geralmente apresentam altos níveis de cobrança, carga horária extensa e pouco suporte emocional.
Crescimento nos estados mais afetados por crises externas
Por fim, é importante destacar que, em alguns estados, eventos externos agravaram ainda mais a situação.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, as enchentes históricas impactaram diretamente a saúde mental da população, refletindo no aumento dos afastamentos. Santa Catarina e Distrito Federal também registraram índices elevados, proporcionalmente à população.
Portanto, fica evidente que a crise de saúde mental tem um perfil bem definido, atingindo principalmente aqueles que já lidam com sobrecarga, insegurança e pouca assistência dentro e fora do ambiente de trabalho.
Fonte: Luiza Rivas e Thalita Ferraz | Arte g1
Fatores que impulsionam a crise de saúde mental nas empresas
Embora a saúde mental seja influenciada por diversos aspectos da vida, é inegável que o ambiente de trabalho tem um papel central no agravamento dessa crise.
Cada vez mais, empresas e especialistas reconhecem que o adoecimento mental dos trabalhadores está diretamente relacionado às condições e exigências do dia a dia profissional.
Em primeiro lugar, as metas abusivas impostas por muitas organizações têm se tornado um dos principais gatilhos para transtornos como ansiedade, depressão e burnout.
Similarmente, a cobrança excessiva por resultados, somada à competitividade intensa, cria um cenário de constante pressão, no qual o trabalhador se sente insuficiente e permanentemente ameaçado.
Além disso, as jornadas extensas são outro fator de grande impacto. Trabalhar por longas horas, muitas vezes sem o devido descanso, compromete não apenas o desempenho, mas também a saúde física e mental.
O esgotamento se acumula, favorecendo o surgimento de doenças psicológicas.
Assédio moral e conflitos
Outro ponto que merece destaque é o assédio moral e os conflitos interpessoais dentro das equipes.
Situações de humilhação, constrangimento ou desvalorização afetam diretamente a autoestima dos profissionais, gerando um ambiente tóxico e altamente prejudicial à saúde mental.
Por fim, a falta de suporte adequado por parte das lideranças e as condições precárias de trabalho agravam ainda mais esse cenário.
Quando o trabalhador não encontra respaldo para lidar com suas dificuldades ou enfrenta estruturas inadequadas, o risco de adoecimento aumenta consideravelmente.
O impacto da crise de saúde mental para empresas e economia
A crescente onda de afastamentos por transtornos mentais não afeta apenas os trabalhadores. Pelo contrário, os impactos dessa crise se estendem diretamente às empresas e à economia do país, gerando custos elevados e riscos significativos para o setor produtivo.
Custo bilionário com benefícios
Para se ter uma ideia da dimensão do problema, em 2024 o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) desembolsou quase R$ 3 bilhões apenas com benefícios relacionados à saúde mental.
Esse valor considera o pagamento médio de R$ 1.900 por mês para cada trabalhador afastado.
Além disso, o tempo médio de afastamento foi de aproximadamente três meses por trabalhador. Ou seja, a cada novo caso de transtorno mental reconhecido como incapacitante, o impacto financeiro se acumula, onerando ainda mais a Previdência Social e, por consequência, a economia como um todo.
Riscos para as empresas: aumento de passivos trabalhistas
Paralelamente, as empresas também enfrentam riscos consideráveis. Afinal, afastamentos frequentes possibilitam um número maior de ações judiciais e aumento de passivos trabalhistas.
Isso acontece, sobretudo, quando o trabalhador consegue comprovar que o ambiente de trabalho contribuiu para o adoecimento mental.
Além disso, é importante ressaltar que empresas expostas a esse cenário tendem a sofrer com queda de produtividade, aumento do turnover e perda de talentos.
Esses fatores, somados, resultam em prejuízos não apenas financeiros, mas também na imagem e na capacidade competitiva da organização.
Atualização da NR-1 sobre saúde mental no trabalho
Recentemente, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) foi atualizada pela PORTARIA Nº 1.419, DE 27 DE AGOSTO DE 2024, trazendo mudanças importantes sobre a saúde mental no ambiente de trabalho.
Com a atualização, as empresas passam a ter a obrigação legal de adotar medidas efetivas para cuidar da saúde mental dos seus colaboradores.
A nova diretriz prevê que os riscos psicossociais como assédio moral, metas abusivas, jornadas exaustivas e falta de suporte, sejam analisados e incluídos no processo de gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
Além disso, o Ministério do Trabalho e Emprego agora poderá fiscalizar de forma mais rigorosa esses riscos nas empresas.
Essa mudança representa um avanço significativo, pois reconhece oficialmente que o ambiente de trabalho pode ser um fator determinante para o adoecimento mental dos profissionais.
Possibilidade de multas em casos de negligência
Outro ponto crucial é que, a partir de agora, empresas que negligenciarem a saúde mental dos funcionários correm o risco de serem multadas.
Ou seja, situações como metas inalcançáveis, jornadas excessivas, ausência de suporte emocional, assédio moral e condições precárias de trabalho serão passíveis de sanções legais.
Conclusão
A crise de saúde mental no Brasil atingiu níveis alarmantes, refletindo diretamente no aumento expressivo dos afastamentos do trabalho por transtornos como ansiedade, depressão e burnout.
Fatores como metas abusivas, jornadas extensas, assédio moral e falta de suporte são alguns dos principais responsáveis pelo adoecimento dentro das organizações.
Em contrapartida, a atualização da NR-1 reforça a responsabilidade das empresas em cuidar da saúde mental dos colaboradores, sob o risco de sofrer penalidades.
Sobretudo, coloca a saúde mental como uma prioridade nas relações de trabalho e incentiva as empresas a adotarem práticas mais saudáveis e humanas na gestão de pessoas.
Afinal, prevenir o adoecimento mental não é apenas uma obrigação, mas também um investimento na produtividade e no bem-estar de todos.
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Fonte:
NR 01 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais